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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Literatura: Khaliu Gibran "Deus"

II Dia

Deus

  Nos antigos dias, quando a primeira palpitação da linguagem chegou aos meus lábios, subi a sagrada montanha e falei a Deus, dizendo: "Senhor, sou Teu escravo. Teu desejo oculto é a minha lei, e obedecer-te-ei para sempre." 
  Mas Deus não respondeu e, como uma poderosa tempestade, seguiu adiante.
  E depois de mil anos, subi a sagrada montanha e novamente falei a Deus, dizendo: "Criador, sou Tua criação. Da argila me fizeste, e a ti devo tudo o que sou."
  E Deus não respondeu mas, como um milhar de asas ligeiras, segui adiante.
  E depois de mil anos, subi a sagrada montanha e falei a Deus novamente, dizendo: "Pai, sou Teu filho. Com piedade e amor deste-me nascimento, e mediante amor e adoração herdarei Teu reino."
  E Deus não respondeu e, como uma neblina que encobre os montes ao longe, seguiu adiante.
  E depois de outros mil anos, subi a sagrada montanha e novamente falei a Deus, dizendo: "Meu Deus, minha meta e minha contemplação, sou Teu ontem e Tu és meu amanhã. Sou Tua raiz na terra e Tu és minha flor no céu; e juntos crescemos ante a face do sol."
  Então, Deus curvou-se sobre mim e sussurrou palavras doces ao meu ouvido, e, tal como o mar envolve um arroio que corre para ele, assim Ele me envolveu.
  E quando desci aos vales e às planícies, Deus estava também lá.

Continua...
  
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