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Poemas...

Além da dor


O operário e sua mão dormente e suja
Que lida com o material e lhe dá forma,
Cor e finalidade, maneja no anoitecer
A droga que o levará ao além,
Para o estúdio da mente instintiva e voadora.
Doses, cores, sonhos, paixões e orgias:
O prioritário é lambido como o mel de
Poucos segundos, precedido pelo frio
Das madrugadas acolhedora

Nenhum sentimento conforta.
As vozes, a música alucinante e
As pessoas sujas são objetos aleatórios.
As sensações e o martírio são
Fragmentos do acaso.


A luz do sol seca o orvalho,
Os dentes do homem mastigam
A massa do vento, e a realidade vêm
Sentar-se no alpendre de sua visão.


Seguram o chão suas mãos
As horas tornam a ser exatas.
O perfume das rosas do jardim invade
A tapera que é seu lar.
Ao seu lado a família tece o dia a dia.

(11 de setembro de 2008)

Tragédia Sertaneja


Este sertão não é sertão, meu caro,
Por causa de suas plantas secas, de
Seu solo quente, da poeira que dele emana
Ou das moscas que bebem nas chagas do
Repugnante cadáver que jaz.


É sertão devido à deficiência do tempo e de seus filhos.
Por causa da mão que enterrou chicotes em dorsos nus,
E dos guerreiros que se confrontaram com seus
Irmãos, rotulados e cadastrados em suas
Pátrias podres.


As lágrimas secaram, e assim secaram os sertões.
As esmolas cobriram as vidas perdidas,
E as promessas tornaram-se nutrientes
Nos homens e mulheres queimados pela
Luz do sol.


Terras estéreis e seus seios secos,
Rachaduras tão profundas como
A fenda no peito do sertanejo são
Cenários para quem vê a vida como
Palco de uma nova possibilidade latente.

Mais uma vez

Hoje, mais uma vez, eu olho
Para mim mesmo e suspiro.
A caneta vai ao papel como
Sinalizadora de uma
Pretensão de fogo.
Hoje, mais uma vez,
Os vales se tornam claros,
E a imaginação se dissipa
Da minha visão como vapor.


O mundo sempre foi o que
De fato é, e não precisa de mim.
Mas eu insisto em abraçar o

Mundo e dele cobrar mais um sorriso.
É mais um ano...querem me convencer

De que o tempo passa,
E eu acabo acreditando.
Querem me convencer de que
Sou importante para o mundo
E eu acabo acreditando.


. 09 de Julho de 2010. À noite!


Daqui vou-me

Daqui vou-me
Certo de meu destino
Embalado por uma canção verde
Que vem da viola suja do caboclo
E circula como vento pela
Taba indígena.

Lá pro outro ponto do norte vou.
Regressarei à minha terra, puro e límpido.
Ouro nobre sou agora,
A pedra de luz do Índio.
Água nascente jorra do meu peito.

No vapor frio que sopra a floresta
E balança a cabeleira do pensar,
Regozijo-me, menino perdido.
Se nasci do pó, são nestas selvas
Que encontrarei o morno leite de
Minha mãe, a linda senhora.

Daqui vou-me
Guerreiro da Revolução das Folhas,
Comandante do fim da fome,
Um vulto de abelhas
A cuidar da cândida flor.

Daqui vou-me
Com o sabre amolado
E a mão macia...

( 06 de janeiro de 2010/ Na Amazônia).

















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