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Por acaso, casos...

         A Xaninha

     Sai da agência de propaganda já à tardinha, onde exerço o cargo de redator. Caminhei pelas ruas movimentadas de Palmas (pelo o menos naquele dia o movimento era intenso) e tomei um daqueles ônibus bem espaçosos: axilas na sua orelha, pernas na cara, barrigas te imprensando contra a velhinha do lado. Por sorte consegui alcançar uma cadeira lá no fundão. Já sentado, presenciei várias pessoas cansadas e sobrecarregadas se aglomerando no corredor. Uma cena diária à qual eu já estou acostumado.
    Uma mulher animada se desvencilhou do povo todo e encontrou a cadeira que estava disponível à minha esquerda. Eu me acomodei no meu lugar para que ela pudesse viajar mais confortável. Sou cavalheiro, mas só quando estou de bom humor. Ela me olhou bastante e depois ficou quieta. Timido, tratei de virar o rosto pra janela, focando meu olhar no céu acinzentado de setembro.
    Depois de algum tempo, percebi que a mulher estava inquieta. Passava a mão no nariz e se preparava para espirrar. Temendo contrair a gripe dela, virei novamente o rosto para a janelinha, como se isso fosse resolver o problema. Dai ela apelou para a tosse. Tossiu com gosto, passou a mão na boca e olhou para mim. Balbuciou algumas palavras e eu fiz de conta que não era comigo. Ela continuou a falar e, vendo que eu estava distraído, me cutucou.

- Vou acabar passando gripe para você, hehe.
- Não se preocupe, eu também estou gripado - respondi à mulher.

     Ela se calou. Pouco depois, puxou conversa.

- Sabia que você parece com o Tim Maia?
- Tim Maia. Legal. - retruquei, espantado.

     Numa cidade onde a maioria das pessoas adoram escutar aqueles ritmos musicais provindos do Pará, tipo tecnobrega e brega (eu não sei a diferença), achei novidade alguém falar em Tim Maia. Na verdade, agente é movido por preconceitos bobos. Por ser o gosto de cem milhões de pessoas, isso não siginifica que não seja possível encontrar pelo o menos um ser vivente diferente na multidão.
      Depois a conversa partiu para um rumo bem diferente da MPB. Notei que ela começou a olhar uma bela loira que estava na cadeira da frente. Virou pra mim outra vez.

- Como tem mulher bonita nesse mundo, hein.

   Com os olhos quase chegando à testa, concordei.

- Relmente, tem muita mulher bonita neste mundo.

   Ela olhou para a loira com muito mais paixão.

- Olha a boca, o cabelo, os olhos. Tudo é perfeito.

   Interessante ver alguém admirando a beleza de alguém. É sinal de que existem pessoas com sensibilidade no mundo. E o melhor: elogiam pessoas do mesmo sexo sem qualquer medo de julgamentos. Certamente, seres humanos evoluídos.
    A mulher não resistiu:

- Eu adoro uma xaninha, hehe. Só descobri depois de velha.

   Ela adora uma xaninha. Algo bem natural para se escutar às 18:30, bem na hora do rush. Depois de desabafar, ela levantou-se, me deu tchau e desceu do ônibus com a maior naturalidade.

- Tchau - disse eu, embasbacado com tanta sinceridade e segurança.

Obs: se você não sabe o que é xaninha, pesquise no Google.
(O caso acima exposto ocorreu numa de minhas viagens de "eixão" rumo à Ulbra de Palmas-TO)

(02/09/2010)

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