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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Para Intelectuais e Bregas!

CALYPSO E TECNOBREGA MERECEM RESPEITO?

Ivan Silva    

Aparelhagens (Foto: Web)

   Grande parcela de toda a riqueza que o Brasil tem em suas mãos está na sua cultura popular. Ela possui grandes preciosidades que a tornam uma verdadeira e incomparável salada, admirada e apreciada no mundo inteiro. São inúmeras cores, cheiros, sabores e manifestações culturais que vivificam esse país de norte a sul.
   Uma dessas belezas brasileiras está num estado que é o segundo maior do país, faz parte da região amazônica e é um dos mais populosos do norte, com cerca de 7.321.493 habitantes. Trata-se do Pará, um estado que, durante sua história, recebeu imigrantes vindos da França, Itália, Líbano e Japão, além de ter participação marcante em grande parte da produção musical e artística no Brasil. É de lá que vieram ícones como Fafá de Belém, Cacá Carvalho, o jogador de futebol Sócrates, Nórton Nascimento, o clássico escritor Inglês de Souza, a cantora Joelma, o guitarrista Chimbinha e mais um sem fim de celebridades.
  Sem dúvida, o Pará tem inúmeros aspectos que merecem serem conhecidos pelos brasileiros. Mas é a área musical desse estado que chama bastante a atenção. Pra quem não sabe, ritmos que fazem o maior sucesso em todo o Brasil, como o calypso e o tecnobrega, vieram das ruas paraenses, e antes de estourarem por todos os cantos desse país faziam a alegria somente do caloroso povo de lá. 
Web
     Calypso e tecnobrega são parecidos musicalmente, embora o segundo seja mais aberto às influências da música eletrônica Techno. Já o primeiro, apesar de se chamar calypso, não tem pouco haver com aquele estilo caribenho, que surgiu em Trinidad e Tobago, no século XIX, e influenciou o surgimento de estilos como o Ska e o Reggae. Na verdade, o calypso paraense é o antigo brega que surgiu após o fim do movimento jovem guarda que estourou nos anos 60. O brega daquela época era um ritmo que tinha mais haver com o “povão”, e seus artistas tinham pouca preocupação com a aparência, além de não dispor de acesso a uma cultura musical mais ampla, o que fazia com que seus discos fossem meio vazios musicalmente, repletos, por exemplo, de arranjos simples e baixa  qualidade sonora, até por não terem tanto acesso à tecnologia fonográfica.
    Pode-se dizer que aquelas melodias simplórias do brega evoluíram com a invenção do brega pop pelos artistas paraenses. E combinando o brega do passado com a moderna música Techno surgiu o tecnobrega, um dos ritmos que atualmente é febre em todo o Pará e já se espalha por várias regiões do país. No estado, as aparelhagens são os instrumentos de difusão de toda essa produção cultural, e muitos DJs e bandas regionais faturam bastante em bailes realizados nas ruas para os fãs do ritmo. Elas são verdadeiros aparatos sonoros, parecidas com naves espaciais, cheias de caixas de som e  equipamentos de iluminação especial De acordo com dados do site Overmundo, divulgados em 2007, depois da onda nacional de sucesso do calypso, cuja contribuição principal foi da famosa Banda Calypso, o tecnobrega passou a ser  a música mais apreciada pelos paraenses. São mais de 73 bandas, 273 aparelhagens (nisto se inclui as pessoas que organizam as festas) e 259 vendedores de cds que trabalham nas ruas em parceria com os artistas. Entre as maiores aparelhagens do Pará estão: Super Pop, Príncipe Negro, Itamaraty, Rubi, Impala, Equatorial, Som Guanabara e Som ideal.

Uma critica

    Apesar de a indústria fonográfica ter se apropriado de muitos artistas e de ter construído mitos como a Banda Calypso, Companhia do Calypso e várias outras bandas extremamente populares no Brasil, tanto de calypso quanto de tecnobrega, isso só serviu para tornar conhecida ainda mais a cultura musical popular paraense. Muitas pessoas que estudam comunicação e áreas afins defendem que a indústria cultural, da qual faz parte a fonográfica idiotiza muito as pessoas atualmente, e transforma a cultura popular, subtraindo dela a sua essência. Realmente isso é fato, mas  no caso do calypso e tecnobrega, a indústria da cultura trouxe modificações e ampliou o sucesso desses artistas, que por sua vez fez o Brasil focar seu olhar sobre as terras paraenses.
     Talvez por repudiarem a indústria da cultura, que fabrica artistas e corrompe a cultura popular, as classes mais intelectualizadas do Pará e de várias partes do Brasil consideram esses ritmos verdadeiras aberrações sonoras, e deitam sobre eles o mais preconceituoso e feroz olhar. Não reconhecem que calypso e tecnobrega são elementos que constituem a riqueza da cultura paraense. Não vêem que esses estilos musicais são provenientes do povo, fazem parte da cultura popular, embora tenham recebido certas influências do pop, calipso caribenho e até do rock. Fazem sucesso nas classes mais humildes e pretendia-se, inclusive, contra a vontade dos intelectuais  transformá-los em patrimônio cultural do povo paraense, através do Projeto de lei nº.130/2008. Ele  foi aprovado e beneficiou os artistas e grande parte da população do estado, que tem grande carinho e respeito por sua identidade cultural.
     É preciso haver menos preconceito e mais respeito por aquilo que o povo faz. Não apenas com relação aos ritmos musicais expostos, mas também por seus demais valores. A diversidade que a nação brasileira apresenta, em todos os aspectos, é  enorme e precisa ser olhada com mais cuidado. Já que os indicadores sociais sempre apontam para o descaso das autoridades e da classe que se julga culta e gozadora da mais nobre cultura, pelo o menos a produção cultural do povo precisa ser valorizada. Para um povo que sofre as mazelas de um país, a única coisa que lhe resta é a cultura que ele possui.
      Sem dúvida, não apenas o Pará, mas o Brasil inteiro é rico e mina cultura popular por todos os seus cantos. Por aqui se cruzam diversas culturas, se formam povos mistos, se fala o português de várias maneiras, se festeja o ano inteiro, se benze, se paga promessas e por ai vai. São diversas as características que compõem esse enorme mosaico cultural, admirado em todo o mundo. De norte a sul as pessoas constroem, em meio às dificuldades do dia-a-dia, a identidade dessa nação grandiosa. Sempre com muita música, uma culinária extraordinária, um folclore que enche a vista, o cinema que se aprimora e a coragem e fé que dão a elas o gás necessário  para tecerem diariamente suas vidas. Para intelectuais e bregas, cultura popular sempre estará ai, enquanto houver povo.


Fontes pesquisadas: