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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Literatura: Khaliu Gibran "Meu amigo"


III Dia


Meu Amigo

   Meu Amigo, não sou o que pareço. O que pareço é apenas uma vestimenta cuidadosamente tecida, que me protege de tuas perguntas e te protege da minha negligência.
  Meu Amigo, o Eu em mim mora na casa do silêncio, e lá dentro permanecerá para sempre, despercebido, inalcançável.
  Não queria que acreditasses no que digo nem confiasses no que faço – pois minhas palavras são teus próprios pensamentos em articulação e meus feitos, tuas próprias esperanças em ação.
 Quando dizes: “O vento sopra do leste”, eu digo: “Sim, sopra mesmo do leste”, pois não queria que soubesses que minha mente não mora no vento, mas no mar.
 Não podes compreender meus pensamentos, filhos do mar, nem eu gostaria que compreendesses. Gostaria de estar sozinho no mar.
 Quando é dia contigo, meu Amigo, é noite comigo. Contudo, mesmo assim falo do meio-dia que dança sobre os montes e da sombra de púrpura que se insinua através do vale: porque não podes ouvir as canções de minhas trevas nem ver minhas asas batendo contra as estrelas – e eu prefiro que não ouças nem vejas. Gostaria de ficar a sós com a noite.
  Quando ascendes a teu Céu, eu desço ao meu Inferno – mesmo então chamas-me através do abismo intransponível, “Meu Amigo, Meu Companheiro, Meu Camarada”, e eu te respondo: “Meu Amigo, Meu Companheiro, Meu Camarada” – porque não gostaria que visses meu Inferno. A chama queimaria teus olhos, e a fumaça encheria tuas narinas. E amo demais meu Inferno para querer que o visites. Prefiro ficar sozinho no Inferno.
  Amas a Verdade, e a Beleza, e a Retidão. E eu, por tua causa, digo que é bom e decente amar essas coisas. Mas, no meu coração rio-me de teu amor. Mas não gostaria que visses meu riso. Gostaria de rir sozinho.
  Meu Amigo, tu és bom e cauteloso e sábio. Tu és perfeito – e eu também, falo contigo sábia e cautelosamente. E, entretanto, sou louco. Porém mascaro minha loucura. Prefiro ser louco sozinho:
  Meu Amigo, tu não és meu Amigo, mas como te farei compreender? Meu caminho não é o teu caminho. Contudo juntos marchamos, de mãos dadas.

Continua...
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Poesia
                                                                                                                                

Chuva
Ivan Silva
A chuva desabou das alturas
E me estraçalhou como um beijo,
Fundindo seu manto colossal
De vento e umidade ao meu velho
Corpo que refugia-se nessa forte emoção.

Andorinhas sobrevoam as searas encharcadas,
Cortando os ares com seus corpos fortes.
A terra acorda para o fenômeno, a
Metamorfose que dá aos céus uma
Cor furiosa e um semblante de deus grego.

Peço à chuva que se jogue sobre
O solo seco da humanidade, e
Se una a ela com a cumplicidade
Que há entre a raiz e o chão, um
Gostoso romance entre elementos
De sigilosas e ímpares naturezas.



Poesia escrita em 2009. No dia em que a escrevi chovia bastante, e acho que me deixei levar pelo clima gostoso. Será que levo jeito para a poesia? Bom, gosto de me arriscar de vez em quando.