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  Samuel Wainer: profissão e vida

Apresentação

Minha Razão de Viver é um livro escrito pelo lendário jornalista Samuel Wainer. O autor expõe suas experiências com o jornalismo e a política brasileira, mostrando o quanto a profissão de jornalista é responsável pela construção e destruição da História, ascensão de políticos, queda dos mesmos e difusão da verdade ou da mentira. Também narra as suas experiências com as revistas e jornais nas quais trabalhou: Revista Brasiliense, Revista Contemporânea, Diretrizes, Diários Associados, entre outros. São as recordações de um repórter que se misturam aos fatos ocorridos no Brasil e no mundo, principalmente, dos anos 30 e 40.

Estrutura

O livro de Samuel Wainer é dividido em 36 capítulos, e possui apresentação, depoimentos e epílogo. São 282 páginas no total.

Conteúdo

Profeta? Sim, profeta! Esse foi o apelido que alguém muito poderoso lhe deu certa vez. O autor do apelido? Apenas um dos maiores políticos da história do Brasil: Getúlio Vargas. E o profeta, quem era? Um dos maiores e mais importantes jornalistas que já pisaram em terras tupiniquins: Samuel Wainer. Desde o principio até o final do livro, Wainer apresenta fatos bastante interessantes de sua carreira jornalística e sobre sua infância na cidade de Bom Retiro, no estado de São Paulo. Faz um relato sobre sua vida pobre de menino judeu nascido na Bessarábia, Rússia, que veio junto com os pais para tentar uma vida melhor no Brasil. Desde cedo, Samuel sempre enfrentou dificuldades financeiras junto com seu pai, Jaime Wainer, sua mãe, Dora e seus outros numerosos irmãos.

Já adulto, conseguiu uma entrevista com o ex-ditador Getúlio Vargas, que mudaria para sempre sua vida e o colocaria ao lado de um grande mito da política brasileira. Vargas fornecera uma entrevista, e Wainer, com seu talento em escrever belas e chamativas reportagens, fez o Brasil inteiro ficar na expectativa para a volta de Getúlio, um líder burguês que se apresentava agora como um homem que governaria para as massas, para o povo. O anúncio da possível candidatura de Vargas levou muitos dos inimigos do ex-ditador à loucura, e vendeu um número impressionante de jornais para um dos grandes magnatas da imprensa brasileira: Assis Chateaubriand, dono do império dos diários associados. Nesta época já era nítido o interesse dos jornais pela lucratividade e também a posição ideológica de alguns veículos de imprensa com relação às decisões do poder. Isso mostra o quanto a política influenciava e influencia diretamente o conteúdo das reportagens e, às vezes, chega a ocultar a verdadeira opinião do veiculo de informação, reduzindo sua liberdade de expressão a zero. Wainer mostra o quanto os patrocinadores, colaboradores, políticos e a censura possuíam e possuem o controle do que deve ou não ser publicado. O jornalista de Bom Retiro sentiu na pele toda essa crucial realidade.

Samuel Wainer também expõe suas experiências nas revistas e jornais nos quais trabalhou. E não foram poucos: Revista Brasiliense, Revista Contemporânea, Diretrizes, O Cruzeiro, O Jornal, Diários Associados e o Ultima Hora, jornal ao qual empregou absoluta dedicação. Ele acompanhou, de perto, fatos históricos que mudaram a história. Viu e viveu os anos em que o Movimento Integralista, considerado fascista e adepto da filosofia nazista, liderado por Plínio Salgado, tentava alcançar o apoio popular. Samuel Wainer mostra que sempre se posicionou contra a política nazista fascista, defendendo a democracia e posicionando-se contra os rumos que Hitler estava dando à Alemanha e obrigando o resto do mundo a seguir. Em Diretrizes, revista na qual aplicou consideráveis esforços, Wainer deixou claro que era um defensor da democracia e às vezes ficava difícil esconder o seu fascínio pelo pensamento comunista. A própria equipe da revista era formada por pessoas de idéias libertárias e democráticas. O Profeta trabalhou ao lado de gênios como: Jorge Amado, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Aníbal Machado, José Lins do Rego, entre outros.

Escrevendo suas reportagens e exercendo o oficio que tanto amara, Samuel Wainer também presenciou as ações efervescentes da Aliança Nacional Libertadora, que reunia as principais forças esquerdistas do Brasil. Um deles era Luis Carlos Prestes, o líder da ANL, que pretendia por em prática a Intentona Comunista, que entraria em confronto com as forças fascistas no Brasil, comandadas pelo Movimento Integralista. Wainer presenciou a derrocada tanto da Aliança Nacional Libertadora quanto do movimento liderado por Plínio Salgado. Nenhum deles suportou a força repressiva do governo Getúlio Vargas, que havia criado o Estado Novo, pondo fim a várias instituições e movimentos políticos no Brasil, além de ter fechado vários partidos e até o Congresso.

Conforme revela o livro, Wainer ganhou destaque com grandes reportagens, abordando temas como o petróleo, cuja exploração ainda era embrionária no Brasil; o trigo do Rio Grande do Sul; a Palestina etc. Ajudou a derrubar grandes esquemas de corrupção e honrou sua profissão até o fim, revolucionando e desenhando as direções do jornalismo brasileiro. E foi no jornal Última Hora, cuja idealização fora estimulada por Getúlio Vargas, que Samuel Wainer se consagrou como jornalista e carimbou seu nome com muito mais força nas páginas da História. Foi um jornalista que sofreu as agruras da profissão, sendo exilado e sofrendo os vetos do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), mas que sempre lutou e criou estratégias para driblar a falta de liberdade e conseguir imprimir nos jornais um pouco da sua posição ideológica. No O Ultima Hora, Wainer tinha como companheiros de trabalho Nelson Rodrigues, Paulo Francis e até mesmo Chacrinha.

Carlos Lacerda, ex-amigo de Samuel Wainer, lutou para provar que o jornalista possuía uma certidão de nascimento falsa, e que não era brasileiro nato, e sim naturalizado. De acordo com a lei na época, isso era ilegal e poderia tirar de Wainer o direito de comandar o Última Hora. Mas o Profeta conseguiu provar sua inocência e permaneceu dirigindo o jornal. O que veio realmente dar fim ao empreendimento de Samuel Wainer foi a ditadura militar, que perseguiu e dilacerou o Última Hora, bem como vários outros veículos de imprensa do período. Exilado e vendo a razão de sua vida desaparecer na imensidão do abismo da intolerância e do autoritarismo, o Profeta viu-se obrigado a vender o jornal em 1972. Três anos depois, Samuel Wainer morreu em São Paulo. O último jornal em que trabalhou foi A Folha de São Paulo, como um simples empregado.

Concluindo, Wainer foi um verdadeiro exemplo de empreendedor. Minha razão de Viver mostra que mesmo com as sérias dificuldades financeiras que os jornais nos quais trabalhou sempre tiveram, Samuel Wainer sempre buscou apoio para continuar publicando suas reportagens que sempre foram sucesso em todo o Brasil. Como ele mesmo declara, o jornalismo foi sua Razão de Viver!

Sobre o autor

Samuel Wainer nasceu na Bessarábia, Rússia, em 19 de dezembro de 1910. Fundou o jornal Última Hora e foi amigo de Getúlio Vargas, um dos mais importantes políticos da História do Brasil.

Trabalhou como jornalista nas revistas Diretrizes, Revista Brasiliense, Revista Contemporânea e em vários outros jornais. Viu e contribui para grandes transformações históricas na cena política brasileira, desde o Movimento Integralista até a Aliança Nacional Libertadora, entre outros.

Revolucionou o jornal impresso no Brasil, trazendo do exterior novos modelos de diagramação e dando uma nova formatação a ele. Faleceu em São Paulo, no ano de 1975.


Livro: Minha Razão de Viver

Autor: Samuel Wainer
Editora: Record

(Ivan Silva)



Stalimir Vieira: um Gigante da Publicidade Tupiniquim

Vieira, Stalimir. Raciocínio Criativo na Publicidade. São Paulo: Wmf Martins Fontes, 2007.

     Existe receita mágica para ser criativo? Há alguma fórmula secreta que possibilite o desenvolvimento da criatividade? Bom, é isso que o renomado publicitário Stalimir Vieira, cuja carreira teve seu maior brilho a partir do ingresso em uma das agências de publicidade mais famosas e prestigiadas do Brasil, a DPZ, responde com grande estilo, humor e toda uma linguagem de quem tem muita experiência no que faz.
    O livro de Stalimir Vieira não é dividido em capítulos. Seu conteúdo é um texto pequeno, mas absolutamente rico. No inicio, o autor fala abertamente de suas experiências com a criatividade, a começar por um episódio de sua infância onde ele tentou ser estratégico e criativo, escrevendo uma redação para um concurso dizendo que queria ser jornalista, já pensando em vencer pelo fato de o júri ser formado por jornalistas. Ficou surpreso ao ter alcançado o segundo lugar, e descobriu que o vencedor havia feito uma redação onde expunha a vontade de ser um grande general do exército. 0s jornalistas o escolheram justamente por estarem vivendo a ditadura militar no Brasil, e o concurso foi em 1967. Ali na infância e juventude, Stalimir relata o quanto precisou se esforçar para alcançar prestigio. Escrevia redações, fora chamado para ser redator em uma agência que pertencia ao seu primo, embora no inicio tenha sido uma tragédia escrevendo apenas bobagens, o que o levou a ser contratado apenas muito tempo depois. Durante esse percurso, Stalimir foi percebendo o quanto o amadurecimento e o investimento em qualidade pessoal são extremamente imprescindíveis para o desenvolvimento do potencial criativo.
     Entrou para a DPZ, em São Paulo, e logo começou a ganhar destaque. Durante todo o livro o publicitário expõe experiências relacionadas à agência que, na época em que iniciou sua carreira em publicidade, tinha como membros “apenas” Washington Olivetto, Frascesco Petit e Zaragoza, os grandes mitos da publicidade brasileira. Ali dentro ele recorda o tempo em que Washington o escalara para coordenar os estagiários. Nessa posição ele percebeu, através de experiências com os aprendizes, o quanto as pessoas têm dificuldade em serem criativas e também a idéia falsa comumente difundida de que os publicitários são iluminados e que as idéias para os anúncios surgem como passe de mágica. Stalimir explica claramente o quanto a criatividade é norteada pelo conhecimento, pela bagagem pessoal, enfim de tudo o que as pessoas assimilam da vida. Anúncios não surgem do nada. Idéias não surgem por acaso.
     Um grande comercial, a grande sacada, não é produto de ação mediúnica. No livro, casos de comerciais de grande sucesso são relatados. Por exemplo: o da vodka Smirnoff. O comercial mostra um casal numa viagem aérea onde o homem lamenta-se por estar indo a um país que não tem Smirnoff. A mulher diz que poderão beber Smirnoff em Katimandu, um outro país que comercializa a vodka. Stalimir Vieira explica que, para construir esse anúncio, foi necessário, primeiramente, analisar as informações do briefing fornecido à agência, constatar o que o cliente precisa (a intenção de marketing) e identificar o que é preciso fazer em termos de publicidade. Também expõe que a idéia para este anúncio surgiu a partir da informação que o briefing forneceu: a Smirnoff está presente em 143 países! Além disso, diz que não seria possível construir esse comercial sem ter dois suportes: primeiro um bom briefing e segundo o conhecimento de que as pessoas adoram beber internacionalidade e apreciam o exótico. Katimandu, por exemplo, é um país desconhecido e transmite a idéia de exotismo. Ou seja, sem essas informações que são resultado da bagagem pessoal de conhecimento do publicitário não há possibilidade de criatividade.
    Pensar ao contrário. Essa é uma afirmação que Stalimir Vieira também defende em seu livro. Ao receber o briefing, o que o publicitário deve pensar? O autor é claro ao dizer que a primeira pergunta que o profissional deve fazer é: “o que os outros fazem”? e fazer justamente o contrário de todo o mundo. Mas essa rebeldia criativa deve ter fundamento, atender ao problema do cliente e, acima de tudo vender. Como o próprio Stalimir diz, a rebeldia criativa é altamente gloriosa quando consegue fazer o consumidor comprar o produto alvo da ousadia publicitária.
    Enfim, o Raciocínio criativo na publicidade é um manual para publicitários, onde as experiências e os anúncios de sucesso são analisados e ajudam a quebrar a idéia de criação mágica na publicidade. Stalimir Vieira expõe de forma contundente, em todo o seu livro, que o publicitário deve sempre buscar meios de desenvolvimento, envolvimento com as informações do briefing e extração de inspiração a partir de tudo o que a vida oferece. É ler, buscar conhecimento sempre para saber usar todo o potencial criativo existente em você. O resto é produto dessa nova postura.
    Stalimir é publicitário experiente. Possui 30 anos de vivência na área publicitária, e tem em seu currículo a posição de diretor da DPZ, uma das agências que vivem nos sonhos de muitos acadêmicos e possui grande glamour. Stalimir também passou pela W/ Brasil, Bates (todas de São Paulo) e na DDB, da Argentina. Além da brilhante carreira, o publicitário realiza conferências em muitos países e no Brasil, além de já ter sido professor e de ser membro do Conar (Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária). As outras obras dele são: “O que o coração não sente os olhos não vêem” e “Propaganda: profissionais ensinam como se faz”.

Comentário Pessoal

    O livro de Stalimir Vieira é leitura obrigatória para publicitários, jornalistas e os profissionais que precisam sempre criar algo diferente para chamar a atenção do público para suas mensagens. Possui uma linguagem muito simples e direta, mais precisamente, objetiva, como deve ser um bom anúncio. A história do autor é bastante interessante, e ele desmistifica aquela visão velada que geralmente costumam fazer as pessoas a cerca da publicidade: profissionais iluminados, médiuns, deuses da criatividade e poesia. Ele explica que todo o processo de criação depende um esforço intelectual e de toda uma carga de informações não visuais acumuladas durante a vida.
    Frases de efeito permeiam o texto, a exemplo de: “quem não sabe expressar o comum não sabe expressar o diferente”, onde defende que as pessoas, para criticar e criar precisam conhecer o que criticam e ter o conhecimento a cerca do objeto sobre o qual lançam sua visão.

(Ivan Silva)
02/09/2010

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