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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Candidatíssimos

Gente boa, gente amiga. Este é um momento tão espetacular quanto a Copa do Mundo de Futebol para todos nós. Um grande time se prepara nos vestiários, engoma seus ternos, escova os dentes (naturais ou não) e passa aquele perfume indefectível que se alastra por quarteirões. Ele se aquece e prepara-se para usar o que mais sofre durante a megalomaníaca empreitada que ocorre de quatro em quatro anos: a bendita lingua. Ela ajuda a mensagem a chegar em alto tom e sempre vence no final, pois o eleitor se cansa e acaba votando por uma razão justa: não aguenta mais tanta falação. A lingua usa e abusa de seu direito, comandada pelo vontade psicótica do seu dono de vencer a qualquer custo.
O ouvido calejado do eleitor manda uma mensagem para o cérebro, e este obriga o dedo a teclar o número que a senhora linguaruda ordenou. O suplício termina. Só daqui a algum tempo é que a perturbação retorna. Bem que podia vir antes da Copa. A competição seria uma aspirina para todos.
Claro que o olho também não pode ficar de fora. São tantas cores, figuras, efeitos, cromos e cartelas sobrepostas que o eleitor fica zonzo. Se assistir a duas sessões do programa eleitoral gratuito, é bem arriscado que ele vá dormir com todas aquelas informações na cabeça e acabe até sonhando aquilo. Um tormento que ele enfrenta dispondo de uma arma de grande calibre, capaz de calar qualquer tagarela e reduzir as imagens carnavalescas e cults a nada: o santo Controle Remoto! Ele é inimigo dos candidatos e capaz de salvar a vida do eleitorado.
Seria bom se tudo resolvesse num clique. Mas não é bem assim não. O timão sai às ruas, entra na casa do eleitor e pega na sua mão, abrindo aquele mega, ultra sorrisão. E se não o acha no conforto do seu lar, ele vai perturbá-lo lá no bar. Isso mesmo. O cidadão, depois de um dia cheio, está com a cabeça tal qual uma panela de pressão, e quer relaxar, tomar uma cervejinha gelada e jogar conversa fora com os amigos. Ai chega o Íssimo, e ele tem de aguentar aquele discurso apaixonado, vibrante e cativante. E pra finalizar, o clássico tapinha nas costas, que às vezes faz o jovem, o senhor ou a dona de casa quase cuspir o pulmão mundo afora. Ai surgem as perguntas: como não se estressar? Por que não ficar indiferente à política? São questões difícies!
Nestas eleições temos alguns candidatíssimos disputando vagas na aconchegante Fábrica Pública. Em suas cartas, discursos, santinhos e outros meios de comunicação é possível perceber a defesa dos superlativos. Todos pensam GRANDE e querem coisas GRANDES para seu país, estado, cidade etc. E a maioria acaba tendo a mesma idéia. O eleitor não enxerga o todo dessa grandiosidade. É muita coisa para seus sentidos captarem. Logo, ele vota para se livrar dessa grandeza que o sufoca e esmaga. Dilma, Serra e Marina pensam grande demais! E se hoje já pensam tão ÃO assim, imaginem depois que um deles conseguir o poder...
Pessimismo à parte, os candidatíssimos vão vencer novamente. A linguagem superlativa vai tomar o lugar do conteúdo mais uma vez. É assim que se faz política por aqui. Se convence o eleitor enfadando-o. É mais ou menos como age a nossa indústria cultural brasileira e mundial: passa a vida a dizer que barro é Milk-Shake. Repete-se até que vira verdade. E o brasileiro cai de boca.
Por favor, gente boa, vamos aprender a podar esses ÍSSIMOS da nossa nação.
Vote em candidatos que tenham conteúdo para mostrar. É só pesquisar. Não é chato. É até divertido! Mas se você não encontrar nenhum que lhe satisfaça (e geralmente os que fazem o coração bater mais rápido são os ÍSSIMOS) vote naqueles candidatos mais fraquinhos que aparecem pouco na TV e andam pelas ruas com roupas esfarrapadas. Eles geralmente são pobres e tecnicamente ignorantes, mas guardam uma sabedoria de causar inveja a qualquer Candidatíssimo!
Tente isso...ou não tente NADA!
Ivan Silva)
02/09/2010

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